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quinta-feira, 7 de julho de 2011

1 Samuel 28 apoia a necromancia e o espiritismo?

Quando Saul consultou uma feiticeira, o espírito que ela fez subir era mesmo Samuel? Isso não prova a existência de vida após a morte e de espíritos de mortos? 

“Entre as operações de maior êxito do grande enganador, encontram-se os ensinos ilusórios e prodígios de mentira do espiritismo. Disfarçado em anjo de luz, estende suas redes onde menos se espera. Se os homens tão-somente estudassem o Livro de Deus com fervorosa oração a fim de o poderem compreender, não seriam deixados em trevas, à mercê das doutrinas falsas. Mas, rejeitando eles a verdade, são presa da ilusão.”[1]

As palavras acima, escritas no século 19, são uma descrição precisa da religiosidade brasileira. O ano de 2010 ficou marcado pelo lançamento de um dos principais filmes do cinema brasileiro de todos os tempos, “Chico Xavier”, que enaltece a figura do principal médium nascido em terras nacionais. Estima-se que mais de um milhão de espectadores passaram por salas de cinemas em todo o território nacional nos dez primeiros dias de exibição.

É evidente que, como adventistas, não compartilhamos os ensinamentos do espiritismo. Cremos na imortalidade condicional do ser humano, e não que a imortalidade lhe seja natural.[2] No entanto, como entender a problemática passagem de 1 Samuel 28, segundo a qual aparentemente o profeta Samuel retornou do mundo dos mortos e se comunicou com o rei Saul?[3] Esse texto se tornou um dos principais argumentos a favor da abordagem espírita das Escrituras Sagradas. 

Neste artigo, faremos uma análise cuidadosa das informações fornecidas pelo texto bíblico. Vamos obter uma compreensão do relato a partir de textos rituais de necromancia entre os povos da Mesopotâmia e Canaã.

Saul e a necromante

A cidade de En-Dor ficava a aproximadamente 7 km de Gilboa, onde o acampamento filisteu estava arregimentado (v. 3). Devido a essa geografia, Andrew Fausset sugere que provavelmente Saul tenha passado pelo acampamento inimigo antes de chegar até a necromante,[4] o que faz sentido quando lemos que Saul se disfarçou antes do encontro (v. 8). A mesma informação é dada por Ellen White.[5] Ele correu todo esse risco apenas para encontrar alguém que pudesse aliviar-lhe o medo por meio de uma sessão de necromancia! 

O texto bíblico não oferece detalhes sobre os processos ritualísticos ocorridos durante a seção mediúnica. Dispomos apenas do diálogo entre a necromante e Saul. Por cinco vezes o verbo “subir” (heb. ‘alah) é utilizado na conversa, como se lê entre os versos 11 a 15. Nessas passagens, o verbo está relacionado ao ato de fazer uma entidade morta voltar para o mundo dos vivos e comunicar sua mensagem. Um estudo aprofundado desses versos revelará a chave para uma compreensão bíblica séria de todo o capítulo.

Ao ser questionada sobre o que estava vendo em seu transe, a médium de En-Dor respondeu: “Deuses subindo eu vejo” (tradução literal). Curiosamente, o substantivo ‘elohim é usado nessa passagem para se referir a uma entidade morta! O motivo desse uso pode ser mais bem apreciado quando lembramos que entre muitos dos povos do Antigo Oriente Médio ancestrais costumavam ser adorados como deuses.

Em textos mesopotâmicos, por exemplo, o substantivo ilu, palavra acadiana para “deuses”, é usado largamente para se referir a mortos. Theodore Lewis, acadêmico da Johns Hopkins University, demonstrou o mesmo fenômeno em textos assírios, babilônicos, egípcios, hititas, fenícios e ugaríticos.[6] O mesmo ocorria em Canaã, como pode ser notado numa rápida comparação entre Números 25:2, onde é dito que os israelitas comeram sacrifícios dos deuses dos moabitas, e o Salmo 106, no qual o autor afirma que eles comeram sacrifícios dos mortos (v. 28).[7] Esses textos sugerem que entre os povos de Canaã os mortos também eram chamados de deuses (‘elohim). 

Um intérprete sério e honesto das Escrituras não pode considerar a aparição do antigo profeta a Saul como sendo de origem divina, uma vez que o texto é claro em dizer que Deus não respondeu ao rei por nenhum dos métodos de revelação (v. 6). O que temos em 1 Samuel 28 é um ritual pagão totalmente contrário aos mandamentos de Deus (cf. Dt 18:9-13).

Saul parece ignorar o fato de que a necromante estava vendo vários deuses/espíritos mortos e muda do plural para o singular com a pergunta “Como é sua aparência?” (v. 14). Quem sabe temendo pela sua vida (cf. v. 9), ela agradou a Saul dizendo que estava vendo “um ancião subindo envolto numa capa” (v. 14). O que levou Saul a identificar esse “ancião” com Samuel, como pode ser lido no mesmo verso 14? Aparentemente a capa (heb.me’il) era uma característica da vestimenta do profeta (cf. 1 Sm 15:27; 2:19), mas ainda assim fica difícil ver alguma conexão entre o “ancião” e Samuel.

É bem provável que essa questão seja elucidada através de um problema textual no verso 14. P. Kyle McCarter Jr., do Departamento de Estudos Orientais da Jonhs Hopkins University, notou que há uma dificuldade em se aceitar a tradução “ancião” ou “homem velho” (‘ish zaqen) com base na versão grega do Antigo Testamento, a LXX.[8] Ao invés de zaqen, “velho”, em hebraico, é provável que a forma original da palavra tenha sido zaqep, cujo significado é “ereto”, mas nesse texto deve ter o sentido de “surpreendente”.[9] A diferença na grafia das duas palavras é mínima, uma vez que as formas finais das letras “n” e “p”, em hebraico, são bem semelhantes.

Se essa reconstrução do texto estiver correta, a necromante de En-Dor não ficou assustada por ver um homem velho, mas sim um ser inesperado que lhe causou pavor. Sua identificação entre esse ser e Samuel pode ter sido motivada pelo medo de Saul não cumprir sua palavra de preservação (cf. v. 9). 

Saul e Samuel

Uma situação que causa certo desconforto quando esse capítulo é tratado em círculos adventistas é o fato de lermos em dois versos (v. 15 e 16) a expressão “Samuel disse...”, uma vez que ele já estava morto, como narrado em 1 Samuel 25:1. O teólogo adventista Greenville J. R. Kent, Ph.D em Antigo Testamento pela The University of Manchester, responde a essa situação comparando com a narrativa de Dagom, em 1 Samuel 5, em que as descrições desse deus filisteu sãos as mesmas de um ser humano. Os versos 3 e 4, por exemplo, dizem que Dagom estava com o rosto em terra, uma atitude praticada apenas por seres humanos, e não por um ídolo de madeira ou de metal. Para Kent, afirmar que “Samuel disse” ou que Dagom estava com o “rosto em terra” é uma técnica literária em que o autor bíblico apresenta o ponto de vista dos personagens, independentemente de serem ou não pagãos.[10]

Outra preocupação de alguns adventistas com esse capítulo tem que ver com a profecia, aparentemente cumprida, feita pelo “espírito” de Samuel que, no fim do seu discurso, fez uma chocante afirmação: “Amanhã, você e seus filhos estarão comigo” (v. 19). 

Há pelos menos três observações a serem feitas a respeito dessa declaração: (1) Que parâmetro confuso é esse utilizado pelo espírito em colocar um profeta de Deus, Samuel, e um monarca rejeitado por Deus, Saul, no mesmo lugar após a morte? Com amplo apoio escriturístico, podemos afirmar que justos e injustos não terão o mesmo destino (cf. Jo 5:28, 29; 1Ts 4:16, 17; Ap 20:4-6; etc.); (2) nem todos os filhos de Saul morreram com ele, na batalha registrada em 1 Samuel 31; logo no início de 2 Samuel, somos informados de que outro filho de Saul esteve envolvido numa tentativa de usurpação do trono, Isbosete, também chamado de Isbaal (2Sm 2:10); (3) Saul não foi entregue nas mãos dos filisteus, mas cometeu suicídio (1Sm 31:12, 13).[11]

Considerações finais

O trágico fim da vida de Saul deve servir de alerta para uma geração de cristãos cercados de influências espíritas, contrárias à Palavra de Deus. Entrar no terreno do inimigo pode saciar temporariamente a curiosidade pelo sobrenatural, mas terá um custo extremamente alto. Um adventista do sétimo dia sentiu isso na pele.

Moses Hull era um pregador com diversos talentos. Além de inteligente e hábil com as palavras, seu interesse se voltou para debates com alguns espiritualistas. Houve certo êxito em alguns casos, e ele levou alguns de seus oponentes ao cristianismo, mas quando um debate com o médium W. F. Jamiesen, em Paw Paw, Michigan, foi realizado, a mente de Hull se tornou confusa e a língua dele ficou estranha.[12]

Ellen White o aconselhou diversas vezes, mas sem êxito.[13] Hull pregou seu último sermão como adventista em 20 de setembro de 1863, e após isso o que se viu foi o surgimento de um líder nas fileiras do espiritualismo. Após deixar a esposa, ele se casou com uma médium espírita chamada Mattie E. Sawyer. Em 1902, Hull se tornou o primeiro diretor do Morris Pratt Institute, uma escola especializada em treinar médiuns espiritas. Somado a isso, ele é tido como o responsável por adicionar textos bíblicos para embasar a doutrina espírita. Tragicamente, Moses Hull cometeu suicídio em 1907, em San Jose, na Califórnia.[14]

Saul e Moses Hull. Dois homens separados por quase três mil anos que caíram no mesmo erro. Paulo estava certo quando disse: “Aquele, pois, que pensa estar em pé, cuide para que não caia” (1Co 10:12).

(Luiz Gustavo S. Assis é pastor distrital em Caxias do Sul, RS)

1. Ellen G. White, O Grande Conflito (Tatuí, SP: CPB, 1995), p. 524.
2. Gerard Damsteegt, Nisto Cremos: 27 ensinos bíblicos dos adventistas do sétimo dia (Tatuí, SP: CPB, 2003), p. 452-468. 
3. Para mais informações sobre a história da interpretação de 1 Samuel 28 nos círculos judaicos e cristãos, ver K. A. D. Semelik, “The Witch of Endor: 1 Samuel 28 in Rabbinic and Christian Exegesis Till 800 A.D.”, Vigiliae Christianae 33, 1997, p. 160-179. 
4. Andrews Fausset, Bible Encyclopedia and Dictionary Critical and Expository, (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1997), p. 205.
5. Ellen G. White, Patriarcas e Profetas (Tatuí, SP: CPB, 1995), p. 679.
6. Theodore J. Lewis, “The Ancestral Estate in 2 Samuel 14:16”, Journal of Biblical Literature 110/04, 1991, p. 600, 601. 
7. Lewis, p. 602.
8. P. Kyle McCarter, Jr., I Samuel: The Anchor Bible 8 (New York: Doubleday, 1980), p. 421.
9. Theodore Lewis menciona dois documentos acadianos nos quais a palavra zapaqu, cognata dezaqep, foi utilizada para se referir ao ato de cobras ficarem eretas, quando prontas para dar o bote, e, curiosamente, outro texto falando do fantasma de um morto que deixou o cabelo de alguém em pé! Ambos os textos se referem a “uma noção súbita ou surpreendente associada com medo”. Cults of the Dead in Ancient Israel and Ugarit (Atlanta, GA: Scholars Press, 1989), p. 116. Portanto, a tradução de zapeq em 1 Samuel 28:14 deve levar em conta esse background etimológico. 
10. Greenvile J. R. Kent, “Did the Medium at En-Dor Really Bring Forth Samuel?”, em Gerhard Pfandl, ed., Interpreting Scripture: Bible Questions and Answers, Biblical Research Institute Studies, v. 2 (Silver Spring, MD: Biblical Research Institute, 2010), p. 199.
11. Kent, p. 198.
12. Herbert E. Douglass, Mensageira do Senhor: O ministério profético de Ellen G. White (Tatuí, SP: CPB, 2003), p. 231.
13. Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja (Tatuí, SP: CPB, 2006), p. 1:426-437.
14. James R. Nix, “The Tragic Story of Moses Hull”, Adventist Review 164:35 (agosto de 1987), p. 16.

Israel analisa incluir o domingo como dia festivo

O Primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ordenou seja estudada a a possibilidade de redução da jornada de trabalho para quatro dias e meio, prolongando o fim de semana em um dia e declarando feriado no domingo, que atualmente é trabalhado.

Netanyahu indicou seu assessor econômico e presidente do Conselho Econômico Nacional, Eugene Kandel para estudar a questão, que teria importantes consequências econômicas, sociais e religiosas. O Vice-Primeiro-ministro Silvan Shalom, que havia proposto a medida, argumentou que se deve "passar a um longo fim de semana o mais rapidamente possível, de acordo com todos os países do mundo desenvolvido".

Segundo o jornal Haaretz apontou, o plano é para que sábado e domingo sejam feriados e a sexta-feira seja um dia de trabalho até meio-dia.

Kandel espera estabelecer uma comissão composta por todos os ministérios relevantes para considerar as implicações da proposta. Netanyahu admitiu que a questão é complexa e requer um estudo sério de vários ângulos: econômicos, sociais, religiosos e ideológicos.

O fim de semana em Israel é celebrado da sexta-feira ao sábado, sendo que as lojas e escritórios estão abertos na manhã de sexta-feira. Os feriados no país começam ao anoitecer da sexta-feira, como uma marca do judaísmo, até o anoitecer do sábado, sendo este intervalo santo e de descanso para que a confissão. 

Shalom, disse que a iniciativa tem a aprovação da Associação dos Fabricantes de Israel, Câmaras de Comércio, União das Autoridades Locais, Associação de Hotéis, sindicatos de professores, Conselho Econômico Nacional e do Diretor Geral do Gabinete do Primeiro-Ministro.

Dois membros do Knesset Likud, Zeev Elkin e Yariv Levin apresentaram um projeto de lei sobre a introdução de um longo fim de semana. A iniciativa destinava-se a forçar o gabinete a tomar uma decisão a este respeito.

Shalom sugeriu que o fim de semana seja sábado e domingo, enquanto a semana de trabalho seria de segunda a sexta ao meio-dia. "Em troca do fim de semana prolongado, vamos trabalhar meia hora mais por dia", disse ele. Uma das razões para a proposta foi a ausência de um "fim de semana" real em Israel, como no mundo ocidental.

Mais de 75 por cento da população mundial e 100 por cento da população do mundo desenvolvido têm adotado os sábados e domingos como dias de descanso. 

Shalom disse que a mudança seria boa para a economia de Israel. 

A medida também resultará em uma semana escolar de cinco dias, o que significaria a introdução uma hora na escola e da obrigação de fornecer o almoço nas escolas. 

Fonte - IGNews

Nota DDP: Tudo absolutamente previsível. O mundo caminha a passos largos para o cumprimento das profecias. A pergunta que sempre fica é: "Quanto tempo mais?" 

Ele sabe.

[Pesquisa - Hiscael Moreno]

O domingo na Europa e a liberdade religiosa sob ameaça

Uma nova aliança promovendo condições justas e equilibradas de trabalho na Europa pediu à Comissão Social e Econômica da União Europeia na semana passada para declarar o domingo um “dia isento de trabalho” em suas novas diretrizes de atuação para os estados-membros. A Aliança Dominical Europeia é uma rede de 65 organizações da sociedade civil, sindicatos e igrejas que concordam que os domingos isentos de trabalho e horas de trabalho justas promovem famílias mais saudáveis e fortalece a coesão social entre estados membros da União Europeia. A proposta da aliança surgiu durante uma conferência sobre o impacto do trabalho aos domingos em relação com a saúde, segurança e integração social dos trabalhadores europeus, o que atraiu psicólogos, cientistas sociais e outros especialistas a Bruxelas, no dia 20 de junho.

“Um domingo isento de trabalho e horas de trabalho apropriadas são um direito bem merecido para todos os cidadãos da Europa”, declara o documento de lançamento da aliança. A definição do documento de “horas de trabalho apropriadas” prossegue alistando “horários tarde da noite, noites, feriados públicos e domingos”.

Os advogados adventistas do sétimo dia de liberdade religiosa preocupam-se com a possibilidade de que a proposta infrinja sobre a livre expressão de crenças religiosas, a despeito de seus bem-intencionados objetivos de reduzir o estresse e o trabalho excessivo. “Apoiamos a noção de que as pessoas carecem de um dia de descanso para obter um equilíbrio de vida /trabalho a fim de manter a saúde e a segurança dos trabalhadores”, declarou Raafat Kamal, diretor de Relações Públicas e Liberdade Religiosa para a Igreja Adventista do Sétimo Dia no norte europeu, acrescentando que a ideia foi primeiro expressa por Deus, que descansou, seguindo-se à semana bíblica da criação. “Ao mesmo tempo, desejamos estar seguros de que aqueles que não têm o domingo como um dia religioso de descanso designado serão respeitados e tolerados”, aduziu Kamal.

O Congresso Judaico Europeu não comentou ainda sobre a proposta de domingos isentos de trabalho. Na Europa também residem 13 milhões de muçulmanos, que observam a sexta-feira. “Espero que os participantes da rede da Aliança Dominical Europeia... apreciem as dimensões pluralistas dos países da União Europeia e a importância de respeitar aqueles com crenças e práticas religiosas diferentes”, disse ainda Kamal.

Os católicos na Europa estão acolhendo bem a proposta. Maximillian Aichern, bispo católico-romano aposentado de Linz, chamou o domingo isento de trabalho de “a mais antiga lei social da civilização judaico-cristã”. “O dia comum de descanso, os contratos sociais que os acompanham e o louvor ao Senhor são os valores cristãos mais importantes e... indispensáveis para a dignidade humana”, ele disse.

A aliança está instando a União Europeia e seus estados membros a “tomarem todas as medidas legislativas e políticas” para assegurar “uma melhor reconciliação da vida privada e profissional”, declarou seu press release de 20 de junho. 

(Adventist News Network)

Nota: É interessante ler a "declaração de fundação" (abaixo) publicada no site da European Sunday Alliance (Aliança Europeia para o domingo - ESA), na qual se destaca a "função espiritual" do domingo. Ou seja, não há somente um apelo secular; há um viés religioso nisso.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Festas juninas: rituais pagãos

Milênios antes do cristianismo, nossos ancestrais já reconheciam que a natureza possui ritmos e ciclos inevitáveis de nascimento e morte. Os primeiros pensadores, ao se preocupar em tentar compreender o mundo, sentiam que existia uma sabedoria cósmica, anterior à própria existência dos homens e que era totalmente independente das decisões tomadas pela humanidade. Os velhos homens sábios recomendavam que nós devêssemos procurar a integração com a ordem universal do cosmos. Precisaríamos aceitar a organização cósmica (ologos), reverenciando-a carinhosamente. Há dois momentos no calendário solar em que os ritmos universais são marcantes: os solstícios de verão e de inverno. Desde tempos imemoriais, os homens festejam essas datas com monumentos impressionantes (como o de Stonehenge) ou com festas deliciosas e sensuais. 

Festas de solstício. No hemisfério norte, na época em que o cristianismo se consolidava, o solstício de inverno ocorria em 25 de dezembro e o solstício de verão acontecia em 24 de junho. O dia 25 de dezembro, contradizendo o pleno frio e o fato de que se vive a noite mais longa do ano, marca o renascimento: a partir daquela data, o Sol - vagarosa e inexoravelmente - ampliaria o seu percurso diário, vencendo as trevas. O dia 24 de junho, que era o dia mais longo do ano, expressa o auge do convívio, da fertilidade e da alegria; é o momento de se alimentar com guloseimas e de se purificar saltando sobre uma fogueira em que se atiram substâncias com efeitos sobrenaturais. As festas de solstício, consagradas pela sabedoria pagã e pela filosofia grega, marcam a comunhão com a ordem universal, externa ao domínio humano. Os gregos festejavam os solstícios com bebedeiras homéricas e orgias dionisíacas. 

São João (que é festejado no Brasil com fogueiras, quadrilhas, comida, bebida, danças, jogos e adivinhações) provavelmente rejeitaria o estilo dos festejos criados para homenageá-lo. As festas juninas (que têm no dia de São João o seu ponto alto) são dionisíacas, celebrando o mistério da renovação da natureza. Em dia de São João, os convivas não se preocupam com os dogmas do catolicismo, mas em reverenciar os ciclos existenciais dirigidos por uma ordem universal, anteriores ao cristianismo e à própria existência da espécie humana. [...]

Cristianismo [catolicismo] e paganismo. Por que o cristianismo (que se afasta tanto da ideologia pagã) se apropriou das datas reverenciais mais importantes do paganismo? Há dois motivos que, no decorrer da Idade Média, tornaram-se evidentes: facilitar a catequese dos pagãos e esvaziar ideologicamente suas comemorações. Assim se construiu a tríade maior das festas da cristandade: a Páscoa, que ocorre no primeiro domingo de Lua cheia após o equinócio de primavera; o nascimento de Jesus de Nazaré, convencionado para o solstício de inverno, 25 de dezembro; São João, coroando as festas juninas, em 24 de junho. 

No que concerne à Páscoa, a Igreja atingiu seus objetivos: os sensuais rituais celtas e germânicos do equinócio foram substituídos pelo jejum, penitência, retiro e contemplação religiosa da quaresma. Mesmo que se afirme que as penitências tenham encolhido nos tempos atuais e que pouco resta além da atitude de abstinência em relação à carne vermelha (na Sexta-Feira da Paixão), o espírito da quaresma norteia, ainda hoje, o comportamento de centenas de milhões de pessoas. 

O Natal está escapando ao domínio ideológico da Igreja: os atos de consumismo, os presentes caros, as mesas fartas obscurecem, em muitos lares, o mistério do nascimento de Deus-homem. Até a ideia de confraternização migrou para a semana seguinte, em que se comemora o início do ano, de acordo com o calendário do Papa Gregório, o grande. 

Mas não há como negar que a força dos rituais de alimentação, o arrasta-pé sensual, o “quentão”, a vontade de adivinhar quem vai casar e o calor da fogueira indicam que, na batalha ideológica das festas de junho, a vitória é do sensualismo pagão. Santo Antônio tornou-se o legitimador de conjunções carnais; as procissões foram substituídas por quadrilhas; a roupa de caipira substituiu o traje litúrgico; heróis ibéricos, cavalhadas e os rojões que simbolizam as armas dos cavaleiros medievais ocupam os lugares que eram dos santos, dos martírios e da cruz. 

No confronto do solstício do meio do ano, a Igreja perdeu para o paganismo. As festas juninas são rituais pagãos. 

(Ney Vilela , Leituras da História)

sábado, 2 de julho de 2011

Uma Viagem ao Sobrenatural - Roger Morneau - Parte 1 de 10

Escrito do livro - Viagem ao Sobrenatural
As experiências e recordações da infância e da guerra haviam levado Roger Morneau para longe de Deus de tal maneira, que ele agora O odiava. Depois da guerra, Roger foi levado, através de um amigo, a adorar demônios. Então, ele descobriu as boas novas de um Deus amoroso, e sentiu o desejo de cortar os laços de adoração aos espíritos. Aqui Roger Morneau narra sua própria história de como o socorro divino o livrou do terrível mundo do satanismo.