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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

M. da Mulher - Uma Lágrima Para Recordar

Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou. Apocalipse 21:4, NVI

Jovem e confusa, ajoelhei-me junto ao leito de meu pai, num grande hospital-escola na Costa Oeste. Meu forte pai, que raramente adoecia, sofrera um poderoso ataque cardíaco, e ali estava, pálido e semiconsciente. Não me reconheceu. Como eu estava na escola no momento em que ele sofreu o ataque, não pude ir com ele para o hospital.

Enquanto eu lhe segurava a mão, ele falava, mas não era comigo. Suas palavras diziam respeito ao que acontecera muito tempo antes, antes do meu tempo. Seu filhinho se chamara Johnny, e as alegres fotos dele no velho álbum da família me encantavam. Era um garotinho com um largo sorriso e sapatos pretos lustrosos. Johnnny morrera aos 4 anos de idade. Meu pai raramente falava nele. Agora estava pedindo a presença de Johnny.

Meu coração se partiu. Tudo o que eu podia fazer era segurar-lhe a mão. Não podia trazer-lhe Johnny. Nem mesmo podia dizer que o amava. Sentei-me por algum tempo, com as lágrimas rolando pelo rosto. Então, ouvi a porta se abrir. Virando-me, vi uma jovem enfermeira, não muito mais velha que eu, num uniforme impecável. Sua tez era morena, clara, e os olhos castanho-escuro eram enormes. Ela parou junto à porta, quase como se não quisesse intrometer-se naquele momento particular, precioso, obviamente ainda não acostumada com a tristeza que muitas vezes se encontra num quarto de hospital. Olhamo-nos por um longo momento, sem dizer nada. Então, uma grande lágrima escapou do seu olho e deslizou lentamente pela face. Aquela única lágrima me contou que ela era sensível e me compreendia. Ela se identificou comigo, na alma e no coração.

Será que ela me abraçou? Teria saído do quarto em silêncio, para que eu continuasse a ter privacidade? Não me lembro do que aconteceu a seguir, mas, 40 anos depois, ainda me recordo da enfermeira com lindos olhos escuros e daquela lágrima solitária que lhe rolou pelo rosto.

A Bíblia fala frequentemente de lágrimas, e diz que um dia Deus enxugará todas elas. Nesse meio-tempo, podemos ministrar aos outros, através da compreensão, da solidariedade e, quem sabe, de uma lágrima.

Graças a Deus, meu pai se recuperou do ataque cardíaco e voltou para casa, para mamãe e para mim.

Edna Maye Gallington

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